Estava eu em meus devaneios, sentada com minha aia mais querida, olhando das ameias mais altas do Castelo, de onde dava para ver duas das principais entradas da cidade. A cidade fervilhava comemorando o aniversário do Principe, podiam me tomar por tola, pois nao podia diferenciar ele de tantos homens e mulheres que se encontravam festejando nas ruas, e se espremendo na praça em frente do castelo, onde havia sido montada uma feira, que vendiam tantas coisas quanto os plebeus tinham imaginação para expor: maças carameladas, sopas de aboboras, grilos-luz em caixas, explosivos coloridos e muitas faixas com o nome de meu filho.
O povo sabia como se divertir. Mal sabiam eles que a festa dos nobres, no salão principal do Castelo estava acontecendo sem a presença do aniversariante. Já que ele não havia regressado ainda. Quase senti vontade de me juntar àquelas pessoas e tentar me divertir um pouco, mas a preocupação me impossibilitava de sorrir. Quando estava para descer o falar com o meu Real esposo, ouvi o som de passos chegando vindos da entrada do terraço.
minha aia foi conversar com o homem que chegara, um soldado, que nao falava nosso idioma, pois viera d’além mar. Mas minha aia que já o conhecia algum tempo, sabia falar seu idioma e eles trocaram meia duzia de palavras e ele se retirou após uma breve reverencia.
- Senhora - a aia disse com seu sorriso jovem - Seu filho acaba de regressar ao castelo. sofreu infortúnio em sua caçada, porém está são e salvo no castelo agora. Foi enviado para a casa de banhos pois se encontrava em um estado nada propicio para a festividade. Ele diz que quer falar com Vossa Alteza, antes de subir para a festa. O soldado nao soube me dar mais detalhes, mas parece que o Príncipe nao quer a presença de Vossa Majestade, o Rei.
Não a respondi. olhei rápido para o céu e vi que faltavam muitas horas para o amanhecer ainda. mesmo assim, tomei a segunda atitude de plebéia da noite: juntei minhas saias e anáguas juntanto na altura de meus joelhos e corri desbaratadamente escadas abaixo até o andar inferior, de onde peguei uma passagem por dentro de uma parede que me permitiria chegar ao porão superior, onde se encontrava a casa de banhos masculina. Corri, passando por frestas, e luzes entrecortadas iluminando meu caminho. Na minha pressa de chegar lá, nem peguei archote algum. Quando cheguei lá embaixo, parei, alinhei meu vestido, fiz a pose de uma rainha com minhas maos sobre o colo, e abri a entrada da passagem, ganhando enfim o ar noturno e fresco. Quando olhei pra trás minha aia, estava chegando porém com roupa desalinhada e toda descabelada. Sorri e a ajudei a se arrumar, pois ela também tinha que estar em forma quando vissemos meu filho. Nao podia passar a imagem errada. Quando cheguei a porta da casa de banhos, dois soldados que seguravam machados, abriram a porta e me deram passagem. Quando entrei, vi que ainda nao estava com aquele calor que normalmente saía daquele lugar. Pude ver que meu filho estava sentado, ainda esperando por mim, sem ter retirado sequer uma meia. ao seu lado, um rapaz que tomei como um pajem, ou aspirante a escudeiro estava sentado. Ao levantar os olhos e me ver, fez uma reverencia profunda e prendeu o ar, como que se estar na presença da Rainha sugasse o ar ao redor.
- solte seus pulmoes e relaxe meu jovem. Nao há porque temer, sou uma rainha, não uma leoa ferida. Nao irei atacá-lo - e sorri para ele mas como ele estava com a cabeça abaixada nao viu - erga seu olhar criança - e ele sorriu de volta.
quando olhei melhor para os dois, fiquei espantada com a situaçao que suas roupas estavam. Estava curiosa para saber o que havia acontecido, mas nao podia perder a chance de mostrar ao reino o quão valente meu filho era.
- mãe... - ele começou, porém eu nao deixei ele continuar.
- Meu filho, nao consigo sequer imaginar o que tenha para me contar dessa vez. mas saiba que deixou a mim e a seu pai preocupados - essa parte é óbvio que é mentira pois o rei ria e gabava que provavelmente seu filho estava se tornando homem de fato esta noite com alguma donzela - saiba que irei te ouvir com toda a sinceridade de meu coração. mas agora você e seu escudeiro devem subir ao salão e conversar com o rei na frente de todos. Provavelmente, isso lhe renderá pelo menos um título, com certeza.
- Mãe, imaginei que a Senhora fosse querer algo do gênero, porém decidi chamá-la aqui para lhe contar antes minha história e ver se posso narrá-la ao meu pai.
Entao ele contou como que, logo em seguida que se separaram dos soldados na floresta, ele ia seguindo uma trilha quando seu cavalo se assustou com alguma serpente, derrubando-o, e fugindo para longe. ele foi tentar seguir seu cavalo, quando um urso o surpreendeu. Ao atacar, ele conseguiu cortar um braço do urso, mas isso somente o enfureceu mais. o urso enfurecido investiu novamente contra meu filho, e em seguida, ele desviou a atenção. Parece que o rapaz, distraíra o urso com uma pederneira ou algo do genero. Enfim, não ouvi muito além desse ponto. Se me lembro bem, um distraia o urso, enquanto o outro atacava, até conseguirem colocar o bicho pra correr todo ferido. demoraram um pouco até recuperarem o cavalo, e retornaram e ali estavam olhando para mim.
-Mãe, pedi para que a senhora vir aqui, pois meu novo amigo aqui não tem nascimento nobre, e se podemos levá-lo frente ao rei. Ele é filho de um lavrador, que trabalha a terra, colhendo algodão. Não ficará feio para mim, que a corte saiba que fui salvo por um plebeu?
Meu filho será um grande Rei. tenho essa certeza, por conseguir antecipar os pensamentos e ações corretas. Claro que seria de grande honra para o rapaz, mas provavelmente depois dessa noite nunca mais verá a corte então o melhor a se fazer é...
- Meu jovem, foi de grande ajuda o que fez pelo meu filho, e fico muito grata. Porém, suplico humildemente, nao manche o nome do Príncipe. quando forem lá pra cima, pro salão, diga que é seu escudeiro. Será de grande ajuda perante a corte. depois de hoje, receberá uma recompensa, e poderá voltar para a casa de sua família. mas fique conosco essa noite, celebre conosco, ficaremos muito felizes com sua presença. - e dei para ele mais um de meus sorrisos calorosos.
Ele aceitou e quando chamei ajuda para escolherem uma roupa adequada para ele, e trazer o traje de festas para meu filho, logo eles estavam somente com suas roupas de baixo. logo surgiram varios criados para auxiliá-los e pra não faltar ao decoro, me retirei com minha aia. não pude deixar de constatar que suas roupas embora muito rasgadas, nao tinham sequer uma gotícula de sangue. e que meu filho não tinha um arranhão em sua pele.
quando ia saindo, decidi que tinha que averiguar isso."