"Estranhei muito ao acordar e
deparar com o céu. Normalmente ao sair da cama, ele está radiante, começando a
se iluminar e a brisa dança com as cortinas de uma forma única. Mas hoje,
parece que as cortinas estavam mortas, e quando olhei na janela, não havia nenhum
traço de sol: pelo contrário, as nuvens mais negras que eu já havia visto na
minha vida estavam pairando sobre a capital e possivelmente sobre o mundo todo.
Parece que toda a água do mundo pairava sobre nós e a iminência da tempestade
era obvia. Cheguei mais perto da janela
e vi o quão furioso o vento estava.
As arvores distantes dançavam e se dobravam sobre si mesmas
como bailarinas do balé da rainha que faziam suas apresentações na feira da
colheita. Só que as arvores, não estava com a graça das bailarinas, mas
pareciam quase a ponto de serem levadas. Permaneci tempo o bastante observando
da janela, até ver a tempestade desabar lá fora. Fiquei pensando em como seria
a caçada com essa chuva toda, a nossa floresta tropical, poderia ser
problemática com tanta chuva.
Samuel entrou rapidamente no quarto e me disse que provavelmente
a caçada seria cancelada. O Rei amanheceu com uma alergia nos olhos, fazendo
lacrimejar muito e que poderia realmente atrapalhar a caçada. Mas que até o
final da tarde teríamos a resposta de nosso curandeiro real.
- obrigado Samuel. Qualquer noticia gostaria de ser o
primeiro a ser informado.
- claro Meu Príncipe.
Infelizmente, nesse dia tive que tomar meu café em meu
quarto, pois não consegui me arrumar e descer a tempo.
Por volta de meio dia o sol vencera as nuvens e iluminou
nosso país enchendo o céu de arco Iris, com todas as suas magníficas cores. Vi nisso um sinal de que o dia seria perfeito.
Ao sair de meu quarto e passar pelo corredor dos retratos, encontrei o castelo
em um silencio profundo. Achei estranho não
ver nem sequer uma criada tirando o pó de algum móvel, ou recolhendo roupas de
cama. Ao chegar na escada tive uma surpresa maravilhosa.
O Rei (meu pai) não amanhecera doente como havia me dita
Samuel. Ele estava ali no pé da escada com minha mãe e boa parte da corte
batendo palmas e saudando a mim. Pelo visto ele ficara muito feliz e orgulhoso
pelo meu aniversario a ponto de preparar uma surpresa dessas pra mim.
- venho saudar a voce, príncipe Gustavo de Roar pelos seus
16 anos, e a maturidade que chega. E venho saudar a voce, meu filho, Gustavo. Como
rei, demonstro meu rei, mas como pai, me dá aqui um abraço,garoto!
Abracei meu pai e minha mãe, que estavam muito felizes nesse
dia. Em seguida eles pediram licença a todos os presentes, e me conduziram pra
fora do castelo direto pros estábulos reais.
Minha mãe me alertou sobre tomar cuidado, pois estavam todas
molhadas as pedras do calçamento, e eu poderia cair e me machucar.
- nosso filho agora é um homem, Rainha Cibele – e riu
gostosamente – não precisa mais de suas asas protetoras.
Corei, e continuei seguindo-os. Ao encontrar o cavalariço,
ele fez um breve aceno com a cabeça e mostrou ao meu pai a baia que ele
procurava. Ao entrar lá, vi o corcel mais lindo que já vi em toda minha vida. Seu
pelo era de uma cor branca tão pura, quanto as nuvens em dias de calor, ou
quanto o algodão que tínhamos em plantações em todas as partes.
- como agora é um homem, nada melhor do que ter seu proprio
cavalo. Por sorte, não terá que adestrar esse, pois ele já é um cavalo obediente.
Tenho certeza que irão se dar muito bem. E agora, olhe nele e me Diga seu nome.
- O nome dele é Algodão.
Voltamos ao castelo só pra reunir o pessoal que iria caçar
conosco. Nosso reino, não era um reino pobre, onde as pessoas passavam fome, ou
esbanjavam riqueza. Claro que como realeza tínhamos alguns luxos, mas não se
via miséria pelo reino. Meu pai, muito justo conseguia distribuir tudo
uniformemente pra todos. Por isso, não era um reino perigoso. Desde que eu
nasci,nossas masmorras não recebem nenhum prisioneiro. O rei saia na rua, com no
Maximo uma escolta de dez homens que era pra conter algumas fãs fanáticas.
Selecionados quem nos acompanharia, saímos pela lateral do
castelo, que passava por ruas estreitas, onde cada um em seu cavalo, e eu em
meu algodão., em fila única, uns atrás do outro, pois a rua era estreita demais
o que poderia ser desastroso. Tínhamos 3 besteiros, 3 arqueiros, 3 lanceiros
mais meu pai e eu.
Saímos da cidade sem problemas, na verdade acho que mal
fomos notados. Se alguém olhasse, não saberia qual era o rei, ou quem era o
vassalo mais pobre. Estávamos vestidos absolutamente iguais. Meu pai dizia que
mesmo sendo um lugar pacifico, poderíamos ter problemas com piratas da areia
que eventualmente apareciam pelas redondezas.
Andamos cerca de 10 quilômetros em uma trilha bastante
fechada, até nos depararmos com uma clareira, que estranhamente tinha varias
rotas. E analisando bem, podia se ver as pegadas do enorme pavão, em quase
todas elas.
- Pai, devemos nos separar aqui e marcarmos um horário para
voltar, ou então algo para sinalizar que está com problemas. Dessa forma,
conseguiremos bater mais terreno, em menos tempo.
- O príncipe Gustavo teve uma idéia louvável. Seria bom se
nos separarmos, e caso algum encontre o Grande pavão, deve usar o apito de
guerra, três sopros curtos. Que assim irei até onde quem chamou, porque o pavão
é meu. Mais ninguém deve matá-lo. Entendido?
Todos concordaram, e eu num ato de liberdade, pedi pra
seguir sozinho por uma trilha. Não houve objeções, e peguei um apito, pendurei
no pescoço e segui o caminho. Andei por muito tempo, talvez se eu soprasse
aquele chifre, meu pai nem me ouviria. Mas não me importei e continuei andando.
As vezes, Algodao resfolegava, mas tudo tranqüilo. Acabei encontrando um
riozinho, onde parei para dar de beber ao cavalo, e a mim também.
O lugar em que eu me encontrava era muito bonito. A água do
riacho corria calma, sem impedimentos, e o barulho era calmante pra meus
ouvidos. A natureza ao redor era viva, com tantas arvores incrivelmente verdes,
e o local que eu me encontrava, formava uma espécie de mini praia. Vi que viera
parar ali por acaso e decidi memorizar aquele lugar, pra voltar posteriormente.
Por fim, em um canto, quase imperceptível, notei algo majestoso, porem
escondido pelas folhagens.
Uma pedra.
Mas não era uma pedra qualquer, ela tinha o formato como de
uma cúpula, e olhando direito, deu pra ver que daria pra esconder embaixo dela,
e sair sem dificuldades, pela abertura lateral. Parecia com uma caverna móvel, que
se pudesse carregar dali, ela não me impediria. Mas analisando melhor, vi que
ela estava presa ali pra sempre, pois estava muito funda no chão. Ela devia
caber dois cavalos dentro dela tranquilamente, como um ovo que não tem um dos
lados de sua casca.
E quando cheguei mais perto, vi que tinha alguém dentro
dela, e que essa pessoa estivera ali o tempo todo, eu é que não tinha me dado
conta. O meu arco estava na cela, pois fiz a idiotice de me separar dele ao
descer do cavalo.
Ele se moveu tão rápido em minha direção que nem tive tempo
de fazer nada.
A ultima coisa que me lembro é de ver que os olhos dele eram
verdes e que estavam carregados de fúria."
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